O silêncio da corneta

Só no Algarve, este ano, já foram apreendidas 17 toneladas de haxixe. Malas com cocaína são abandonadas no aeroporto de Lisboa ( 4 de setembro e ontem). De 2018 para 2019 a quantidade total de cocaína apreendida quase duplicou: de 5, 5 ton para 10,5.

A ausência do assunto no debate nacional é enternecedora. Faz-se  de conta de  que não existe ou, pior, de que é normal.

Este artigo, exemplo de muitos dos que têm  celebrado a descriminalização do consumo de drogas ( 2001)  em Portugal é hoje lido com um sorriso. Também esta peça da TSF apresenta Portugal como referência  mundial. Passe a babugem propagandística, nenhum problema.  Ainda  trabalhava ( e numa unidade de desintoxicação...) no então organismo público desta área ( CEPD, depois SPTT ) e já me recusava a assinar manifestos contra a simples administração de metadona. Com o apoio da FCT e do Ministério a Ciência e do Ensino Superior  pude escrever e publicar este pequeno ensaio. Ou seja, sempre considerei a criminalização  um disparate inacreditável. Outro osso é apresentar Portugal, hoje, como fazem os artigos citados,  como uma referência em mátéria de drogas. A menos que com isso também queiram dizer o resto: somos agora um famoso narco-entreposto.

 

A História moderna ( Manila, primeiro decénio do século, a experiência proibicionista do bispo Brent e do governador Taft) ) das intoxicações ensina-nos que nada é isolado, nada é independente.  Portugal transformou-se,  gradualmente, nos últimos vinte anos, num narco-entreposto. É o período da descriminalização. Não existe relação causa-efeito perceptível  nem faz sentido que exista. As causas são outras e irei acrescentar aos textos que já aqui publiquei  uma ou outra ideia, mas apresentar um narco-entreposto como referência em mátéria de drogas é uma imbecilidade de todo o tamanho:

Cocaine usually enters Europe via Spain and Portugal in the South and via ports of Belgium and the Netherlands in the North and gets further disseminated across the European drug market.

 

 

 

 

publicado por FNV às 18:55 | link do post | comentar