Canabis: lições e asneiras
O Expresso desta semana traz de novo a associação entre a canabis e a esquizofrenia. Talvez um dia traga o laço autoevidente entre o álcool e o ciúme delirante / assassínio de mulheres ou entre o álcool e os acidentes de viação mortais. O teor de THC aumentou? Sem dúvida. Tem aumentado sempre:
( daqui)
Estamos no século XIX. O Ocidente gosta tanto do ópio como o Oriente ( antigas categorias simplistas do tempo colonial). As Guerras do Ópio forçaram a China a aceitar as encomendas descarregadas sobretudo pelos ingleses ( nós também traficávamos via Macau). Jardine e outros traficantes operavam como os galegos dos anos 80 ou o marroquinos actuais no algarve. A conclusão do Tratado de Nanquim, em 1842, escancara cinco portos ao ópio britânico. A 4 de Abril de 1843, Lord Ashley , na Câmara do Comuns defende a supressão do tráfico: era prejudicial a outras exportações britânica para a China e a própria culturado ópio era aviltante para a dignidade humana. Pois era. Num ápice , com a morfina ( mas já desde o laúdano) a classe média inglesa enamora-se da coisa. Wilde, Keats, de Quincey dão-lhe o glamour que faltava.
Recapitulando:
Em 1805 e em 1811 Serturner publicita no Journal der Pharmazie, a sua pesquisa: a descoberta e extracção de um alcalóide do ópio, a morfina
Em 1850, Wood em Edimburgo e Hunter em Londres inventam a seringa hipodérmica
Em 1868 o parlamento inglês aprova o Pharmacy Act que passa a colocar sob controlo dos farmacêuticos a disponibilidade dos opiáceos.
Este brevíssimo lembrete do passado serve apenas para recordar que na História das Drogas (a moderna, claro) as substâncias psicoactivas encontram sempre forma de se adequar ao interesse dos consumidores. Quando a canabis tinha um teor de THC e CBD quase irrelevante comparado com o actual ( 0.72% em 1976 contra os 28% actuais), o que fizeram os decisores? Proibiram-na e responsabilizaram-na pela loucura e morte. Pior, prenderam miúdos com dois charros no bolso. Agora choram.