Brincar à repressão do narcotráfico.

Esta semana a PJ anunciou a apreensão de 500kg de cocaína escondida  em contentores num armazém do Porto: Operação Alçapão. Foi assim "desmantelada uma rede de narcotráfico".

Há quinze anos, a PJ também desmantelou - Operação Lezíria Branca - uma perigosa rede de narcotráfico e fez a ( até hoje) apreensão recorde no território continental ( Almeirim, terra dos melões) : mais de 4 toneladas.

Não sei se topam o padrão. De cada vez que é feita uma apreensão é dado um duro golpe no narcotráfico, mas este regressa sempre e em força. As coisas  têm de ser feitas, ninguém discute,  mas, e como tenho mostrado aqui, o narcotráfico  está pujantíssimo em Portugal. Assim, uma pergunta  se deve fazer:  qual é o real interesse em cortar ervas daninhas na metade esquerda do quintal e deixá-las crescer na metade direita?

 

Podem dizer-me que ninguém tem interesse em deixar crescer as daninhas na metade direita, mas é falso. Pelo menos, se não existe interesse há desinteresse. Sendo , de longe, o principal problema  criminal no país, o empenho na coisa é pouco mais do que indigente.

Como eu sou só um curioso, deixo-vos a fala de quem sabe. Carlos  Garcia, 30 anos de PJ:

 

Na Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes (UNCTE) éramos cerca de cem inspetores em 2002-2003. Nos últimos dez anos perdemos 60 - mais de metade. A diretoria do norte, que teve mais de 50 inspetores na droga, hoje tem nove. A diretoria do centro tem sete, Aveiro tem três inspetores para investigar droga, o mesmo em Braga, Guarda tem dois, Portimão tem seis, Funchal e Ponta Delgada têm sete cada um, Setúbal, com o volume que tem desta criminalidade, tem duas pessoas, em Leiria há um inspetor - ora, como é que é possível investigar o tráfico desta forma? Basta ver os relatórios da Europol para verificar que o tráfico de droga está no topo das prioridades internacionais. Até porque está muitas vezes interligado com outra criminalidade grave, inclusivamente o financiamento do terrorismo. Houve um aumento substancial da produção da cocaína e, consequentemente, do tráfico, e o que vemos é a redução dos efetivos. Estamos a brincar! E isto é transversal a todas as áreas.

 

 

 

publicado por FNV às 09:15 | link do post | comentar