As drogas fazem mal? ( 1)

As drogas fazem mal? Isto parece uma pergunta estúpida. Vem-nos logo à cabeça, por exemplo,  a tragédia  da heroína e do HIV/SIDA nos anos 80/90 ou os crimes e destruição familiar e social provocados pelo álcool.

Interessa-me o pressuposto da pergunta. Falamos de que drogas? De todas? De algumas? E falamos de que mal? E a quê?

 

Junger  conta sempre a história do slogan de uma cervejaria : É a cerveja que torna a sede agradável. Deixemos os ritos báquicos e a circulação do corno, tão caros a Junger, e reparemos como o álcool uma das mais populares drogas, está entranhado no tecido social  um pouco por todo o globo ( com a excepção muçulmana, claro). Já o material injectável sofria  abordagens populares mais ácidas e muito antes do tempo de Junger.

The Devil´s Needle, de 1916 ( na imagem ),  foi na linha de outros ( como por exemplo The Pace That Kills,  1933) que condensavam duas ideias: as drogas eram armadilhas para jovens inocentes, mas podiam ser deixadas com ar puro e desporto:

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Como é que duas substâncias psicoactivas ( a morfina e o álcool)  exibem representações sociais tão diferentes? Depende de muitos factores. A cultura do álcool, imigrante e católica ( polacos, irlandeses, italianos etc) , nos EUA, estava  já sob fogo cerrado  dos WASP ( White, Anglo-Saxon & Protestant) na altura do The Devil's Needle. Passado o vendaval da Lei Seca, o álcool  regressa alegremente, mas a heroína e a cocaína não. Pois, mas  no intervalo a Lei Seca deu cabo de metade da América ( por isso foi revogada) .

 

Ou seja, o álcool foi readmitido sem deixar de ser altamente regulado. Não sei se me explico  bem: uma droga considerada mortífera entre 1920 e 1933 passou tranquilamente a ( voltar) a ser um produto legal, animador de indústrias e garante de trabalho para  milhões de americanos.

Percebem agora melhor a pergunta inicial?

 

 

 

publicado por FNV às 10:46 | link do post | comentar