A experiência canadiana: o leopardo não muda as pintas
O projecto canadiano da legalização da canabis excitou muita gente. Pela minha parte mantive-me sempre reservado: entendi-o apenas como uma medida justa, nada mais do que isso. Adultos podem comprar e consumir álcool ou erva sem terem de entrar no mundo do crime. As excitações vieram de dois campos opostos. Uns entendiam que era um perigo porque daria azo a outras formas de consumo, causaria mais acidentes rodoviários e atingiria grupos de risco como grávidas e adolescentes.
Outros visavam objectivos fantásticos:
Como seria de esperar não aconteceu uma coisa nem a outra. O Canadá não se entregou a uma orgia de maconha nem o consumo diminuiu:
Alguns dirão que é cedo. Aceito mas não aceito. Em lado nenhum a legalização de um comportamento aditivo produziu efeitos catastróficos ou a redução do mesmo. Bem, há a excepção do Volstead Act ( a Lei Seca), que fez descambar a corrupção e a criminalidade dentro do próprio aparelho judicial norte-americano, mas isso é outra história.
O Canabis Act é minucioso ( leiam só a parte 3 e 4 se quiserem) e equilibrado. O que não podia era confirmar as malucas suspeitas de orgia legalizada nem alcançar os fantasiosos objectivos de reduzir o consumo de uma coisa apenas porque passa a ser legal.
Os políticos e juristas ainda não aprenderam que o mundo das substâncias psicoactivas não é totalmente regulável a partir de um gabinete alcatifado. Como tenho tentado mostrar neste blogue.