A East India Company, o primeiro cartel narco
Os mexicanos, marroquinos e colombianos estão na Europa a trabalhar no negócio. A grande mudança é essa: já não enviam o produto, estão cá distribuir, vender, produzir. Os agentes químicos necessários à produção de cocaína, como o acetato de etila e outros:
Como sempre, pensamos que a novidade é absoluta. Não é, é apenas relativa.
Depois de muitas zaragatas ( a Primeira Guerra do Ópio) o Tratado de Nanquim ( 1842) abre cinco portos chineses à Inglaterra. Despejar ópio nos pulmões chineses estava assegurado ( pese o primeiro édito proibitivo assinado pelo imperador Yung Chen em 1729).O problema é que Serturner tinha descoberto a morfina e a seringa hipodérmica foi inventada pouco depois, em 1850. Tenho numa secção especial algumas edições ( francesas e portuguesas) de final do século XIX sobre estas modernices.
O que tínhamos então? Os ingleses a encher os cofres com o anfião de Bengala : toda a zona baixa do Ganges, numa extensão de aproximadamente mil quilómetros, produzirá o famoso ópio de Malwa. Três regiões de denominação protegida ( como se diz hoje nos vinhos) vão brilhar: Sutanuti, Gobindapur e Kalikata ( a união destas três povoações dará mais tarde o nome a Calcutá). Ao mesmo tempo a morfina injectável utrapassava o láudano em popularidade e os lordes ingleses inquietavam-se.
Tanta inquietação constata-se no discurso de Lorde Ashley em 1843 nos Comuns, advogando a supressão do tráfico. Vai daí, em 1868, o Pharmacy Act é o precursor das tentativas de controlo dos opiáceos: passam a ser apenas disponibilizados por médicos e farmacêuticos.
Ou seja, a Companhia das Índias foi o primeiro grande cartel narco. Ocupou uma zona de produção, espetou o produto num mercado estelífero mas depois desenvolveu-o na Europa e chegou às casas de professoras primárias entediadas e de Oscar Wilde, Yeats ou Quincey.