Afeganistão: histórias antigas.

O Great Game , se visto no mapa, era  facilmente perceptível: os britânicos vindos do sudeste, os russos vindos do noroeste. Encontraram-se no Afeganistão ao longo de grande parte do século XIX e jogaram o jogo do conde Nesselrode e do capitão Connoly. Não sei o suficiente sobre as intenções russas desse tempo, mas o jogo britânico parecia claro: prolongar a esfera de influência a partir da Índia, defender-se da cobiça russa. Em 1836, estava Mohammad Khan ocupado, a tentar reunificar o antigo projecto do grande Afeganistão de Durrani, quando os ingleses entram pelo país adentro. Esta terra de ópio é também terra de muitas coincidências:

- A primeira guerra anglo-afegã coincide com a primeira guerra do ópio sino-britânica: 1839 -1842.
- Os russos cheiram o terreno , primeiro com promessas ( a fronteira de 1873), depois com as armas ( o incidente de Pandejh em 1885) e, finalmente, em força, com a invasão soviética de 1979.
- Esta invasão é precedida em oito meses pela revolução iraniana; o Irão passará de uma produção média anual de 200 toneladas de ópio bruto para 325 nesse ano. Isto causará um impacto interessante na geopolítica do ópio que noutros posts da série analisaremos em detalhe.
- Não foram os EUA, através da CIA, os primeiros a armar os inimigos dos russos: os britânicos fizeram-no ( daí o incidente de Pandejh) até 1919, altura em que Amanullah sobe ao trono e se vira para Moscovo.

A ocupação britânica do Afeganistão é mitigada pela batalha de Maiwand ( dizia-se nos meios militares ingleses que não se pode combater na Ásia Central a partir de planos traçados à sombra de uma veranda indiana), mas a Inglaterra continuará a deter um droit de regard sobre o país. Muitas tribos são separadas com a delimitação da fronteira Durand ( 1893) e o Pamir é retirado aos afegãos; a confusão permanecerá por muito tempo. Curiosamente, os ingleses não encorajaram a produção de ópio durante o seu consulado colonial, mas o contínuo retalhar do território forneceu as bases para uma enorme produção futura. Em terra de cegos, quem tem a papoila é rei.

publicado por FNV às 10:09 | link do post