CHICAGO "JUAREZ" II ( introdução à Lei Seca)

Nada é assim tão simples. Abra-se com este artigo de Euan Wilson:

 

The story of Prohibition after the 1929 stock market peak is a model for how the current crisis in Mexico and the U.S. is likely to play out. In the late 1920s and early 1930s, Chicago streets ran red with the blood of victims connected to the alcohol industry. In a quest for territorial control, gangs expanded bootlegging operations beyond Chicago, with Capone’s reach eventually extending into Florida. As bootlegging routes grew, so did associated violence. A few defenders of Prohibition steadfastly supported The Untouchables, but in time, the majority of the public simply grew fed up with the criminal warring and the corruption, violence, and death associated with law enforcement efforts. In the end, public mood demanded change and Prohibition was repealed.

 

E também este, mais antigo ( 2010), do mesmo  autor,  mas ainda actual:

 

Like Prohibition-era bootleggers, the bad guys here are gangs of thugs competing for smuggling routes into lucrative markets. A year ago Wilson predicted that the violent battles would edge ever closer to U.S. borders and then spill over in a full-scale gangland turf war.  Wilson predicted that California, Arizona, New Mexico and Texas would see the kind of horrors then plaguing Mexican states. In late May, the AP reported that fishermen in Falcon Lake, on the Texas-Mexico border, have been robbed at gunpoint by “pirates.” The local sheriff called the attacks a byproduct of fighting between Mexican drug gangs. In early June, the U.S. and Mexico were engaged in a dispute over the death of a Mexican teen—allegedly shot for throwing rocks at U.S. border patrol agents.

 

 

Euan Wilson cai, no entanto, num erro comum aos que partidarizam a política de drogas. Ele imagina a legalização das drogas, um acto administrativo,  como o remédio que resolverá a violência e a corrupção  ( diz isso mesmo no final do primeiro artigo citado). Não compreendo por que motivo  cai neste erro: se por ignorância se por paixão. Vejamos  o que aconteceu em Chicago "Juarez" depois da Lei Seca ter sido revogada:

 

 

1) Quando o Volstead Act foi revogado, os judeus  controlavam o tráfico e distribuição de heroína:  Meyer Lansky, Arthur "Dutch " Schultz e  "Bugsy "Siegel encomendavam o material  de Paris e Xangai. Louis Buchalter, menos  mediático e cinematográfico que os já citados,  comprava  a droga através de  uma conexão grega. Entre  1935 e 1937, fez seis viagens a Xangai, tendo adquirido 649 kg. A mafia italiana não tardou a deitar a mão ao negócio da heroína. Tinham tudo: a organização, a força, a vontade.

Lucky Luciano foi o pioneiro, já á entrada dos anos 40. Começou por fazer  entrar a droga usando a fachada de uma grande companhia  farmacêutica ( sem pedir  autorização) , a Schiaparelli, e depois estabeleceu a  ligação siciliana  A heroína viajava de Palermo até várias cidades europeias, passava por Cuba e chegava aos EUA em óptimo estado. Quando os laboratórios  siciianos  fecharam, por volta de 1950, a operação passou para os intermediários corsos, que deram início,  em Marselha, à famosa French Connection. 15 anos  depois da Prohibition ter sido levantada, os que  com ela lucraram estavam outra vez in business.

 

2) Logo a seguir à legalização  do álcool, os principais bootleggers reconverteram-se. Joe Kennedy, Sr., ( pai de JFK)  tornou-se o distibuidor oficial da Haig&Haig, Samuel Bronfman ( fornecedor de "Lucky" Luciano) fundou a Seagram's, Lensky e "Bugsy" Siegel dedicaram-se à importação de  vinhos francese de gama alta e por aí fora.

Na célebre cimeira mafiosa das montanhas Apalaches, em 1957,  os participantes descobriram que  quase toda as suas licenças de porte de arma tinham sido assinadas por oficiais da polícia de Nova Jérsia e Nova Iorque. No ano seguinte, um procurador distrital, Paul S. Willims, notava um governo invisível no sul do district de Nova Iorque, atribuindo a origem à Prohibition.

 

 

A Lei Seca não acabou com o álcool. Nem pouco mais ou menos. O que conseguiu foi fortalecer o crime organizado, instalar  a corrupção  total ( juizes, procuradores, jornaistas, polícias) e fazer correr sangue. Só que daí a concluir que  Ciudad Juarez e outras em redor, como em muito breve do lado "bom" da fronteira, se limpariam por decreto é de uma  ingenuidade terrível. Tão terrível como a política actual.

Quem faz  a caridade de me ler deve estar a pensar: "Então o que é que este tipo propõe?". Para início de conversa, este tipo não propõe nada. Ao longo deste projecto ( e , com muita sorte, talvez na forma de um ensaio) espero poder demonstrar que só redefinição global, sobretudo na produção,  da forma como vemos  as intoxicações pode melhorar as coisas. Digo melhorar, não curar ou vencer.

 

 

 

 

Bibliografia: Booth, 1996, Allsop, 1968, etc.

 

publicado por FNV às 18:56 | link do post | comentar