Os europeus, os precursores do narcotráfico
A luta contra droga, a war on drugs, é a luta contra a dita cultura ocidental. Parece estranho, não é? Nem tanto.
Um bósnio-holandês e um marroquino-holandês presos no...Dubai. A operação Luz do Desertto reivindica a degola de um super cartel responsável por 1/3 do tráfico europeu de cocaína. A globalização pula e avança? Não. A globalização esteve sempre umbilicalmente ligada ao narcotráfico. E fomos nós, europeus, que a inventou.
Tenho o prazer de ter , e há muito tempo, nas minhas estantes, a referência mundial em drogas de século XVI. Garcia da Orta : Colóquio dos Simples e Drogas e Cousas Medicinais da Índia, publicado em 1563. Foi traduzido por Lecluse ( Clasius) quatro anos depois e agrupado a uma outra, de Cristovão da Costa , dada à estampa em Burgos em 1576. Entre outras coisas, uma interessantíssima: nenhuma referência ao ópio...fumado. Essa invenção, a primeira grande no narcotráfico mundial, viria depois pela mão de portugueses, espanhóis, holandeses e ingleses: cruzando continentes e mares, línguas e etnias. E tudo sem uma App.
Quem populariza, traficando e criando mercados, o ópio fumado são os europeus. No tempo de Orta e de Costa tínhamos três tipos de ópio ingerido: o do Cairo ( meceri na Índia), o de Adém ( negro e rijo) e o de Cambaia ( mais molle a mais louro na descrição de Orta), popular sobretudo na Índia.
O início do hábito de fumar o ópio é nebuloso, adopto como boa a tese javanesa e malaia. Misturar folhas de tabaco com ópio: o madak, que subsistiu até início do sex XX, continha apenas 0.2% de morfina. O hábito é passado, via trocas comercias, ao sul da China. Espanhóis e portugueses levam o tabaco a Java Samatra e Sião. A diáspora chinesa estabelece os Hokkiens ( de Fujian) e os Teochuw ( de Cantão).
A conquista de Malaca pelos holandeses da VOC assegura às comunidades chinesas o monopólio da importação de ópio: 56 toneladas / ano em 1677. O resto é conhecido: as Guerras do Ópio ( 1839 e 1853, já mencionadas neste arquivo) nas quais os ingleses ( e franceses) impõem a abertura de portos chineses ao tráfico de ópio produzido na Índia.