Quarta-feira, 17.03.21

Narco-antepassados

A costa do Coromandel, e não o porto de Coromandel que nunca existiu,  compreende a orla marítima do Tamilnadu e Andra Pradesh numa extensão de mais de setecentos quilómetros A VOC Verenigde Oost-Indische Compagnie ou Companhia das Índias Orientais é fundada em 1602 com um capital inicial de seis milhões de florins.  Seis anos antes já a frota de Van Houtman ( houve um holandês a jogar com esse nome, Peter Houtman,  no Sporting), em nome da Compagnie van Verre ( Companhia das Terras Longínquas )  atingira Java  e Samatra. Em 1598 o retorno das especiaiias gerara um lucro de 400%.  A VOC surge como uma forma de agregar as empreitadas, não deixar baixar os preços e detendo o monopólio do comércio com o Ocidente por um período de vinte e um anos.  Isto vai atingir, mais tarde,  a influência portuguesa no Coromandel.

A partir da Formosa ( Taiwan), os holandeses começam a adicionar ópio ao tabaco talvez como forma de combater as febres endémicas. Também em Java há relatos da mistura, a origem exacta é incerta.  É o início de uma bela história da disseminação do ópio, história essa confirmada pelos ingleses e outra companhia, a célebre  Companhia  das Índias Orientais da Coroa Inglesa.  Em finais do século XVII a Companhia está apertada. As lãs inglesas não se vendem na Índia , mas a seda e algodão indianos  tinham muita procura em Inglaterra. A balança comercial Europa-Ásia inclina-se a favor da segunda.

No século seguinte, o chá, outro produto  da Companhia, sofre  com a mercadoria de contrabando. O ópio vem salvar a face britânica.  A 24 de Agosto de 1690, um homem da companhia, Job Charnock, estabelece uma feitoria em Sutatuni. Mais tarde agrega  Gobindapur e Kalikata. A união das três ficou conhecida pelo nome da ultima, Calcutá.  Várias lutas contra os senhores locais, sobretudo  Siraj Ud Daulah, neto de Alivardi Khan, Nawab ( nababo) de Bengala, que  trava e vence a batalha de Fort William em 20  de Junho de 1756. O  almirante Watson recaptura a cidade a 2 janeiro de 1757 e a batalha de  Plassey, a 23 de Junho desse ano, põe o ponto  final. A companhia torna-se  dona de Bengala, taxa todas as transacções comercias ( inclusive as exercidas pelos  próprios bengaleses). Os anos passam e o chá e o algodão não convencem o grande e novo  mercado chinês. Será o ópio, já no início do seculo XVII, o salvador da Companhia. Tanto assim que em seu nome, no século seguinte, se travarão as famosas Guerras do Ópio: o direito dos ingleses ( e outros europeus) a inundar a China de várias coisas, sobretudo...ópio.

Lá mais para frente detalharei, mas para já fiquemos assim: apropriação manu militari da geografia, estabelecimento das plazas ( de produção e venda) , controlo dos preços. Sei que a propaganda pinta colombianos e mexicanos como pioneiros do narcotráfico, mas, meus caros, o que leram ( com bondade...) é a pré-história dos narcos.

 

publicado por FNV às 23:28 | link do post | comentar

A construção de um narco-estado

Em 1995 escreviam V. Ruggiero e N. South sobre a coincidência do aumento de consumo de cocaína na Europa com a escalada do VIH/SIDA e faziam uma previsão: os cartéis e as cross-border multinational enterprisis vêem a Europa como uma enorme mercado continetal e não como países separados.

Daurius Figueira, um curiosíssimo autor tobaguenho ( que eu saiba o único tipo que publicou sobre um golpe islâmico em Trinidad e Tobago), teórico pós-colonial e da geopolítica das drogas, traça uma comparação entre a abordagem do narcotráfico nas Caraíbas e na Guiné-Bissau:

- Subdesenvolvimento

- Oligarquias predadoras prontas para a corrupção e vassalagem aos cartéis

- Posição geográfica: pontos de partida para os mercados a norte

- Fronteiros a países mais desenvolvidos que servem de quartel-general aos cartéis

 

Já aqui mencionei o caso guineense ( Bubo Na Tchito, Camara e outros generais) , só reforço outro ponto clássico da apropriação de um estado pelo narcotráfico: o desejo de alguma estabilidade. Na Tchito foi um dos vencedores do golpe de 2008 , um dos garantes da tal narco-estabilidade.

Portugal não é a Guiné, mas veremos como existem pontos de contacto.Um facto é indesmentível:

 

Artur Vaz spoke to journalists on the sidelines of the opening session of the Seminar on Cross-border Drug Trafficking – Caravela Project, held at the headquarters of the Polícia Judiciária (PJ), in Lisbon, with the presence of the Attorney General, Lucília Gago, the national director of the PJ, Luís Neves, and the director of the department of drug combat of the Federal Police of Brazil, Elvis Secco, among others.


According to Artur Vaz, Portugal, the countries geographical position and the existence of special relations with Latin American countries, namely Brazil, leads international criminal organisations to paralyse many of the transport structures with large quantities of cocaine between the two continents across the Portuguese maritime and air borders.

 

 

 

 

publicado por FNV às 09:46 | link do post | comentar

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