Belladonna, droga europeia antiga

Um velho aforisma de Pascal  constitui um bom cajado nestas andanças: a memória é necessária para toda as operações da razão. Aceitar as drogas como um antiquíssimo elemento, cultural e ordinário, só pode ser feito à luz do aforisma.

 

Antes da Expansão, e durante, mas ainda com coisas nativas,  a Europa  confrontou-se com muitas substâncias psicoactivas. Na Aquitânia de Trezentos,  na Suábia, na Saxónia ou no Piemonte  já de  Seiscentos.  Para além do já discutido aqui Claviceps Purpurea, outra planta cumpriu o fado habitual : intoxicação , prazer, mistério e condenação. a Beladona ( nome simplificado).

Atroppa Belladonna, nome científico, pertence à extensa família das solanáceas  da qual até a batata faz parte. É um elegante  arbusto  de cerca de dois metros, de folhagem permanente, e que floresce nos climas temperados no início do Verão. As bagas que vêem na imagem  têm e tiveram muitos nomes:  cereja-da-feiticeira, fruto-da-bruxa, erva-do-diabo etc. É nas línguas  do norte da Europa que encontramos  os nomes mais ligados à história  da planta. Sono e morte : deddly-night shade, Dwale ( termo inglês do old norge que siginifica  torpor ou transe) Walkerbeere, do alemão  fruto das valquírias.

 

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Lineu deu-lhe o nome em honra de Atropos, a inflexível, uma das três Moiras gregas. As outras eram Cloto, a fiadeira e Laclesos, a adjudicadora. Nos óleos de Strudwick ( 1890)  e de Goya ( 1823), lá está  Cloto a desenrolar o fio da vida, Laclesos a determinar o comprimento  e Atropos a cortá-lo sem piedade.

A Beladona possui  dois alcalóides com propriedades psicoactivas: a escopolamina e a atropina. Até 1.0mg  diminuem o ritmo cardíaco e dilatam as pupilas. A partir de 2.0mg: ataxia, distúrbio do discuros e delírio. A dosagem baixa que convoca o torpor e a dilatação pupilar seria sexualmente  favorecedor , segundo tipos bons como  Rudgley, Oxenberg e Stocker, sendo Belladonna, o nome, ligado à sedução de belas venezianas e florentinas renascentistas. Pode ser, mas creio  cá para mim que a dosagem mais alta ( até certo ponto)  é que era utilizada: desinibição sexual.

 

Falaremos de outra plantas europeias antigas e do seu uso,  mas  com a Beladona podem já constatar quão antiga, e rastreável,  é a memória europeia das intoxicações. Pascal tinha razão.

 

publicado por FNV às 11:42 | link do post | comentar