The French Connection (i)
Em 1946, o nosso Lucky Luciano, como já vimos, um sobrevivente da bela experiência que foi a Lei Seca, é posto em liberdade por pressão dos serviços secretos americanos. Deportado para Itália, inicia, como também já referi, a melhor rede de tráfico de heroína dos anos 50-60. Do Líbano e da Turquia, a heroína chegava a Palermo, dava umas voltinhas pela Europa e desembarcava em Cuba ( já tínhamos visto isto também). Em Havana, Santo Trafficante , em rede com Meyer Lansky, embala a droga para Nova Iorque. Ora bem, anotem mais uma preciosa colaboração dos EUA ( os líderes da war on drugs) para o sucesso do narcotráfico mundial. Falta perceber o que foi, então, a French Connection.
Os laboratórios sicilianos ( também já vimos em posts anteriores), que processavam a pasta de ópio libanesa e turca, deixaram, a certa altura , de dar conta do recado. Os historiadores e analistas dividem-se quanto às razões deste fracasso: falta de capacidade operacional, quebras de segurança, pressão americana sobre os governos italianos. Seja como for, a partir de 1951 ( data da descoberta pela policia do primeiro laboratório) , a mafia corsa começou a processar a pasta de ópio em Marsela. Nascia a French Connection, masi exctamente, a Marseille Connection.
Os corsos funcionavam de forma diferente da mafia siciliana. Constituam uma organização menos rígida, mais cosmopolita ( tinham contactos no Canadá, Indochina, Norte de África etc) e especializada no contrabando e na química . Luciano e os outros patrões de Nova Iorque simplesmente adaptaram o esquema a Marselha, benefeciando de uma enorme vantagem: a França fechava os olhos à French Connection. A razão? Simples: os corsos não vendiam em território francês. Isto explica a impunidade quase total em que viveram, até 1972, os laboratórios marselheses.
As raízes do savoir faire marselhês remontam a dois personagens de filme: François Spirito e Paul Bonaventure Carbone. Colaboracionistas durante a ocupação nazi, inimigos figadais dos sindicatos comunistas de Marselha, já em 1929 tinham começado a exportar heroína para os EUA ( Spirito foi preso em 1939 por ter contrabandeado 25 quilos de ópio a bordo do SS Exeter) . Em 1931, Simone Sabiani, maire interino de Marselha, e fascista notório - fugiu para Sigmaringen ( dirigiu as LFV) quando os nazis cederam e foi depois condenado à morte -, nomeou Carbone director do estádio municipal..
Bibliografia: U.S. Congress, Comitee on Government Operations, Organized Crime, Mc Coy ( 2003) e também Siragusa ( aqui numa entrevista dos anos 60).