CHICAGO "JUAREZ" II ( introdução à Lei Seca)
Nada é assim tão simples. Abra-se com este artigo de Euan Wilson:
E também este, mais antigo ( 2010), do mesmo autor, mas ainda actual:
Euan Wilson cai, no entanto, num erro comum aos que partidarizam a política de drogas. Ele imagina a legalização das drogas, um acto administrativo, como o remédio que resolverá a violência e a corrupção ( diz isso mesmo no final do primeiro artigo citado). Não compreendo por que motivo cai neste erro: se por ignorância se por paixão. Vejamos o que aconteceu em Chicago "Juarez" depois da Lei Seca ter sido revogada:
1) Quando o Volstead Act foi revogado, os judeus controlavam o tráfico e distribuição de heroína: Meyer Lansky, Arthur "Dutch " Schultz e "Bugsy "Siegel encomendavam o material de Paris e Xangai. Louis Buchalter, menos mediático e cinematográfico que os já citados, comprava a droga através de uma conexão grega. Entre 1935 e 1937, fez seis viagens a Xangai, tendo adquirido 649 kg. A mafia italiana não tardou a deitar a mão ao negócio da heroína. Tinham tudo: a organização, a força, a vontade.
Lucky Luciano foi o pioneiro, já á entrada dos anos 40. Começou por fazer entrar a droga usando a fachada de uma grande companhia farmacêutica ( sem pedir autorização) , a Schiaparelli, e depois estabeleceu a ligação siciliana A heroína viajava de Palermo até várias cidades europeias, passava por Cuba e chegava aos EUA em óptimo estado. Quando os laboratórios siciianos fecharam, por volta de 1950, a operação passou para os intermediários corsos, que deram início, em Marselha, à famosa French Connection. 15 anos depois da Prohibition ter sido levantada, os que com ela lucraram estavam outra vez in business.
2) Logo a seguir à legalização do álcool, os principais bootleggers reconverteram-se. Joe Kennedy, Sr., ( pai de JFK) tornou-se o distibuidor oficial da Haig&Haig, Samuel Bronfman ( fornecedor de "Lucky" Luciano) fundou a Seagram's, Lensky e "Bugsy" Siegel dedicaram-se à importação de vinhos francese de gama alta e por aí fora.
Na célebre cimeira mafiosa das montanhas Apalaches, em 1957, os participantes descobriram que quase toda as suas licenças de porte de arma tinham sido assinadas por oficiais da polícia de Nova Jérsia e Nova Iorque. No ano seguinte, um procurador distrital, Paul S. Willims, notava um governo invisível no sul do district de Nova Iorque, atribuindo a origem à Prohibition.
A Lei Seca não acabou com o álcool. Nem pouco mais ou menos. O que conseguiu foi fortalecer o crime organizado, instalar a corrupção total ( juizes, procuradores, jornaistas, polícias) e fazer correr sangue. Só que daí a concluir que Ciudad Juarez e outras em redor, como em muito breve do lado "bom" da fronteira, se limpariam por decreto é de uma ingenuidade terrível. Tão terrível como a política actual.
Quem faz a caridade de me ler deve estar a pensar: "Então o que é que este tipo propõe?". Para início de conversa, este tipo não propõe nada. Ao longo deste projecto ( e , com muita sorte, talvez na forma de um ensaio) espero poder demonstrar que só redefinição global, sobretudo na produção, da forma como vemos as intoxicações pode melhorar as coisas. Digo melhorar, não curar ou vencer.
Bibliografia: Booth, 1996, Allsop, 1968, etc.