A história afegã, Parte I: os antecedentes iranianos.
Os EUA exibem o maior recorde de asneiras em sede de política de drogas. Como têm sido eles, desde o início do século passado , a liderar as referidas políticas, a conclusão é estelífera.
Já aqui falei , a propósito de Khun Sa, da forma desmiolada como os EUA se intrometeram no antigo Triângulo Dourado: a política da DEA e da Casa Branca foi a de estilhaçar a zona, provocando o aparecimento de centenas de focos de produção e dezenas de senhores da guerra, que se transformaram em senhores do ópio. Avançando até aos anos 80, a verdade é que nada chega aos calcanhares da asneira afegã: ao mesmo tempo que que declaravam a war on the drugs , os americanos criavam o mais pujante e concentrado território produtor de ópio até hoje existente: o Afeganistão. A razão foi simples: a covert war contra a URSS.
Em 1947, o Afeganistão e o Paquistão eram insignificantes produtores de ópio. Nos anos anteriores, Os ingleses tinham controlado a proução na fronteira norte do Pqquistão mas não proibiram o consumo. Via Jalalabad, o ópio afegão, produzido no vale de Herat e em Kandahar, chegava para as encomendas. Naqule zona, o problema era o Irão, enquanto produtor e consumidor. Um pouco mais afastada, a Turquia era outro problema, mas apenas enquanto produtora.
Em 1949, o U.S. Bureau of Narcotics abre um escritório em Teerão. Garland Williams, o chefe de missão, descobre uma população adicta de 1,3 milhões. Um em cada nove adultos era drogado e existiam , só na capital, 500 dens. O shah impõe então uma restrição e o exército erradica o cultivo da papoila. Boa ideia. O número de dependentes desce brutalmente para cerca de 350.000 almas que consumiam 240 toneladas de ópio afegão e turco.Acontece que 350.000 drogados era muito drogado, até porque o número real era superior ao da propaganda e balança comercial estava inclinada para Kabul. O shah tem então outra ideia: permitir o cultivo da papoila para produzir heroína destinada a utilizadores registados. Os EUA desesperam: distribuição controlada é tabu em Washington. O shah não recua, tanto assim que retoma, em 1969, o cultivo próprio. O motivo : "Baniremos a produção de ópio quando os nosso vizinhos o fizerem".
O Irão, o Afeganistão e o Paquistão funcionavam, naquela altura , na forma que os especialistas designam por self-contained opium trade. Traduzindo por miúdos, diz-se de uma zona que não excede a produção de forma severa, não exporta significativamente para outras áeras do globo e mantém estável o número de consumidores. A covert war da CIA contra os soviéticos haveria de estilhaçar este precário equlíbrio.
Este pedacinho de História recorda dois eixos fundamentais da política de drogas:
a) uma atitude musculada funciona sempre num primeiro momento,
b) a médio e longo prazo, nada funciona em separado.
bibliografia: Mc Coy, 2003, e o próprio Kissinger, como podem ver aqui nesta troca de telegramas.