Sábado, 16.06.12

NÚMEROS, FACTOS

Produção de ópio no Afeganistão sobe 61% de 2010 para 2011.

 

1) Duas notas: o Afeganistão produz pasta de ópoio e esse raw material  tem de passar sobre muitas alpoldras até chegar às ruas. Ou seja, um aumento de matéria prima no produtor  não significa  , de forma imediata, um aumento de pureza da heroína nas ruas ( a pureza é o principal  indicador  da saúde no narcotráfico - e não o preço , como por vezes os jornalistas  julgam).

 

2) Tanto quanto se sabe, este ano, 2012, a produção vai baixar. Isto significa que talvez se aproxime dos números  de 2010, o que vai fazer com que mais gente plante  em força para compensar e 2013 voltará a ser ...um bom ano de ópio.

 

Volto a  notar, tudo isto num território enxameado pelos melhores  soldados  do mundo, com licença para matar e queimar. 

Boa sorte para  a war on the drugs.

publicado por FNV às 16:27 | link do post | comentar

RAÍZES IMPERIAIS E COLONIAIS DA PROIBIÇÃO - a tese (II)

Trackl morre na noite de 3 de Novembro de 1914. Nesse ano, Pessoa publica o Opiário onde decreta: Eu vou buscar ao ópio que consola/ Um Oriente a oriente do Oriente. Trackl não chegou a beneficiar da oferta de Wittgenstein aos artistas e poetas da Der Brenner, a revista editada por Von Fischer em Insbruck.
Se a anáfora de Pessoa não pode por mim ser explicada ( ainda que a tentação seja muito grande) , o contexto pode. É o tal oriente misterioso, a tal representação que tanto irritou ( é o termo exacto) Edward Said. É o Oriente do Divan ( "colecção"em farsi) de Goethe  , ou o Egypto de Eça ( mais realista)  todo cliché: distante, misterioso, perigoso , sedutor.
Pese o exagero de Said, que no fundo peca pelo mesmo essencialismo ( o "ocidentalismo")que critica no orientalismo, existe um fundo de verdade nisto. Nesta altura ( transição do século XIX para o XX) , as drogas, sobretudo o haxixe o ópio, são consideradas um produto da mente degenerada dos orientais. Que não haja dúvidas e isto é muito importante: o  que vinha do Oriente ( ou dos orientes) , tudo o que vinha, era considerado produto de civilizações inferiores, bárbaras ou decadentes. Esta é outra das razões que levou aos esforços dos control advocates, partidários da regulamentação e , mais tarde, da proibição. De resto, também nos EUA, a Temperança e a Prohibition bebiam na cultura WASP ( branca, anglo-saxónica e protestante) o ataque ao álcool. Os alvos eram os imigrantes irlandeses, polacos, checos e alemães, grande bebedores e católicos vindos de longe.
Aqui podem ver as liustrações da novela de Saussay,  La Morphine  (data de publicação indeterminada, mas rondando 1880-1890) e aqui a ficha de um dos mais antigos fimes ( 1894)   que liga o Oriente ao terrível vício.


 

 

 

 

 

Bibliografia: caótica, incluindo João Barrento ( (1996), Vicente ( 2006)

publicado por FNV às 15:38 | link do post | comentar

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