KHUN SA E OS ERROS
É um dos personagens míticos do narcotráfico mundial. Em 1967, ainda novo e já warlord, conduziu um carregamento de 16 toneladas de ópio de Vingngung para Ban Khwan, já no Laos, à beira do rio Mekong. Declarou que não pagaria um tostão de imposto revolucionário ao Kuomintang. Uma batalha sangrenta desenrolou-se a 29 de Julho e muitos boatos correram sobre o destino exacto do ópio, mas o certo é que a partir daí Khun Sa estabelece-se.
A lenda não é real. Khun Sa não era o cérebro da narcotráfico do Triângulo Dourado dos anos 70. Bangkok, Hong Kong e sindicatos tailandeses é que operavam no tereno, pagando a Khun Sa pela protecção que este ofercia com as suas tropas no terreno. Mas há mais e pior.
Em 1974, a administração Carter assinou com a Birmânia um acordo de cooperação envolvendo seis helicópteros Bell e 4,8 milhões de dólares para financiar o plano anti-narcóticos de Rangoon. Os helis e o dinheiro acabaram por ser utilizados noutra campanha: a da guerra contra o CPB ( o partido comunista local) e váriis grupos de rebeldes , incluindo os Karen, que nem sequer se envolviam no narcotárfico.
A ideia dos EUA, a orientação da ONU e o dinheiro norueguês ( 5,5 milhões) destinavam-se a substituir o cultivo da papoila por outras culturas. Em 1988, quatorze anos depois deste programa se ter iniciado, a produção de ópio na Birmânia passou de 350 toneladas/ano para 1280/ano.
O que é espantoso é que a ONU e os EUA não aprenderam. Duas décadas depois , no Afeganistão, cometeram exactamente os mesmos erros. Bem, chamemos-lhes erros...
Bibliografia: Lintner 1999