Sexta-feira, 29.06.12

CANNABIS: falsa fé

"Prohibition has two effects: on one hand it raises supplier costs, disrupts market functioning and prevents open promotion of the product; on the other, it sacrifices the authorities’ ability to tax transactions and regulate operation of the market, product characteristics and promotional activity of suppliers. The cannabis prevalence rates  show clearly that prohibition has failed to prevent widespread use of the drug and leaves open the possibility that it might be easier to control the harmful use of cannabis by regulation of a legal market than to control illicit consumption under prohibition. The contrast between the general welcome for tobacco regulation (including bans on smoking in public places) and the deep suspicion of prohibition policy on cannabis is striking and suggests that a middle course of legalised but limited consumption may find a public consensus."

 

 

Um facto incontestado: a cannabis é da família do álcool no que se refere ao grau de dependência física e psicológica. A diferença de política só se explica pela má fé, ou melhor, pela falsa fé. O resultado do drug control trend é escabroso: não diminuiu o consumo ( veja-se o último relatório do UNODC)  e biliões de dólares são, todos os anos,  atirados borda fora para deleite dos traficantes.

 

 

 

 

 

 

Bibliografia: Pudney, Stephen, "Drugs Policy – What Should We Do About Cannabis?" Centre for Economic Policy Research (London, United Kingdom: April 2009), p. 23.

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Terça-feira, 26.06.12

Novidades

Já saiu o relatório anual do UNODC. Primeira impressão: tudo estável ( tanto pior para 100 anos  de war on drugs), mais produção de  ópio no Afeganistão, mudanças e desvios  complexos nos  padrões de produção e consumo de diversas substâncias. Calhando, daremos  alguma atenção ao mercado das anfetaminas.

Depois, como sempre, números estranhos. Em 2009 foram apreendidas em Portugal 2,7 toneladas de cocaína ( base e cristais), enquanto que na Noruega apenas 61 quilos. Seja como for, se se tiver mantido  a regra do 1/3, quer dizer que passaram por Portugal 7,1 toneladas de cocaína.

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A história afegã, Parte II: a hipocrisia da war on drugs de Reagan e um fundador da Irmandade Muçulmana

A CIA, sob olhar envergonhado da DEA, criou o maior drug lord dos anos 80. Gulbudim Hekmatyar era o líder  de um pequeno grupo de guerrilheiros, o Hezb-i-Islam,  que operava  apartir de Pershawar, na fronteira afegã. Foi um dos fundadoresa da Irmandade Muçulmana no Paquistão e chefiou as manifestações  anti-Kabul no início dos anos 60. Gostava de atirar ácido às estudantes que se recusavam a usar o véu e foi acusado de ter asassinado uma jovem esquerdista em 1972. Foge então  para a zona de Pershawar. Mais tarde, em 1973, Daud destrona o rei e  e Hekmatyar, com  a ajuda de Butho ( o pai de Benazir)  lança diversos ataques à república comunista e ateia de Daud, a partir do vale do Panjir.

Como sabem, Daud começou a tergiversar, aproximou-se  do Irão e os soviéticos resolveram agir. Em 1981, Ronald Reagan e o general Zia ( o chefe das secretas paquistanesas)  acordam na necessidade de prestar ajuda à guerrilha afegã anti-soviética. Em 1985, Reagan ordena,  numa ordem de serviço confiencial, que os soviéticos devem ser forçados a sair do Afeganistão by all means available. Na prática, a CIA vendia à guerrilha afegã os Stinger e outras amenidades. O pagamento: os lucros da venda da pasta de ópio aos laboratórios  paquistaneses.

William Casey dirige, nos anos 80, uma das  maiores estações da CIA. Em 1982, a heroína afegã e paquistanesa já cobre as necessidades de 60% do americanos. Na fronteira noroeste, sob a pata do  general Fazle Haq, trabalham  entre 100 a 200 refinarias de heroína. O Afeganistão já produz, em 1983, cerca de 575 toneladas /ano. Greenleaf e Wilson explicaram à administração Reagan que "se  dessem  à guerrilha afegã um décimo da ajuda que os soviéticos deram aos norte-vietnamitas,  the Russians would really have either hands full". Em 1983, pôs-se o problema da Emenda Rodino, que interditava a ajuda a países que não tomassem medidas adequadas para controlar a produção e exportação de narcóticos. O presidente da House of Foreign Affairs Comittee, Steven Solarz, quis  saber como era possível ajudar quem enchia as ruas americanas de heroína barata. Não obteve resposta, porque o general Zia foi considerado um amigo dos EUA. No entretanto, humilhados, vários agentes da DEA pediram a transferência para fora do Paquistão.

Neste artigo da época, muito suave, podem ver em que consistia a war on drugs de Reagan.

 

 

Bibliografia:  McCoy e Barnett Rubin,que tem muitas memórias e arquivos disto.

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Domingo, 24.06.12

CHICAGO "JUAREZ" II ( introdução à Lei Seca)

Nada é assim tão simples. Abra-se com este artigo de Euan Wilson:

 

The story of Prohibition after the 1929 stock market peak is a model for how the current crisis in Mexico and the U.S. is likely to play out. In the late 1920s and early 1930s, Chicago streets ran red with the blood of victims connected to the alcohol industry. In a quest for territorial control, gangs expanded bootlegging operations beyond Chicago, with Capone’s reach eventually extending into Florida. As bootlegging routes grew, so did associated violence. A few defenders of Prohibition steadfastly supported The Untouchables, but in time, the majority of the public simply grew fed up with the criminal warring and the corruption, violence, and death associated with law enforcement efforts. In the end, public mood demanded change and Prohibition was repealed.

 

E também este, mais antigo ( 2010), do mesmo  autor,  mas ainda actual:

 

Like Prohibition-era bootleggers, the bad guys here are gangs of thugs competing for smuggling routes into lucrative markets. A year ago Wilson predicted that the violent battles would edge ever closer to U.S. borders and then spill over in a full-scale gangland turf war.  Wilson predicted that California, Arizona, New Mexico and Texas would see the kind of horrors then plaguing Mexican states. In late May, the AP reported that fishermen in Falcon Lake, on the Texas-Mexico border, have been robbed at gunpoint by “pirates.” The local sheriff called the attacks a byproduct of fighting between Mexican drug gangs. In early June, the U.S. and Mexico were engaged in a dispute over the death of a Mexican teen—allegedly shot for throwing rocks at U.S. border patrol agents.

 

 

Euan Wilson cai, no entanto, num erro comum aos que partidarizam a política de drogas. Ele imagina a legalização das drogas, um acto administrativo,  como o remédio que resolverá a violência e a corrupção  ( diz isso mesmo no final do primeiro artigo citado). Não compreendo por que motivo  cai neste erro: se por ignorância se por paixão. Vejamos  o que aconteceu em Chicago "Juarez" depois da Lei Seca ter sido revogada:

 

 

1) Quando o Volstead Act foi revogado, os judeus  controlavam o tráfico e distribuição de heroína:  Meyer Lansky, Arthur "Dutch " Schultz e  "Bugsy "Siegel encomendavam o material  de Paris e Xangai. Louis Buchalter, menos  mediático e cinematográfico que os já citados,  comprava  a droga através de  uma conexão grega. Entre  1935 e 1937, fez seis viagens a Xangai, tendo adquirido 649 kg. A mafia italiana não tardou a deitar a mão ao negócio da heroína. Tinham tudo: a organização, a força, a vontade.

Lucky Luciano foi o pioneiro, já á entrada dos anos 40. Começou por fazer  entrar a droga usando a fachada de uma grande companhia  farmacêutica ( sem pedir  autorização) , a Schiaparelli, e depois estabeleceu a  ligação siciliana  A heroína viajava de Palermo até várias cidades europeias, passava por Cuba e chegava aos EUA em óptimo estado. Quando os laboratórios  siciianos  fecharam, por volta de 1950, a operação passou para os intermediários corsos, que deram início,  em Marselha, à famosa French Connection. 15 anos  depois da Prohibition ter sido levantada, os que  com ela lucraram estavam outra vez in business.

 

2) Logo a seguir à legalização  do álcool, os principais bootleggers reconverteram-se. Joe Kennedy, Sr., ( pai de JFK)  tornou-se o distibuidor oficial da Haig&Haig, Samuel Bronfman ( fornecedor de "Lucky" Luciano) fundou a Seagram's, Lensky e "Bugsy" Siegel dedicaram-se à importação de  vinhos francese de gama alta e por aí fora.

Na célebre cimeira mafiosa das montanhas Apalaches, em 1957,  os participantes descobriram que  quase toda as suas licenças de porte de arma tinham sido assinadas por oficiais da polícia de Nova Jérsia e Nova Iorque. No ano seguinte, um procurador distrital, Paul S. Willims, notava um governo invisível no sul do district de Nova Iorque, atribuindo a origem à Prohibition.

 

 

A Lei Seca não acabou com o álcool. Nem pouco mais ou menos. O que conseguiu foi fortalecer o crime organizado, instalar  a corrupção  total ( juizes, procuradores, jornaistas, polícias) e fazer correr sangue. Só que daí a concluir que  Ciudad Juarez e outras em redor, como em muito breve do lado "bom" da fronteira, se limpariam por decreto é de uma  ingenuidade terrível. Tão terrível como a política actual.

Quem faz  a caridade de me ler deve estar a pensar: "Então o que é que este tipo propõe?". Para início de conversa, este tipo não propõe nada. Ao longo deste projecto ( e , com muita sorte, talvez na forma de um ensaio) espero poder demonstrar que só redefinição global, sobretudo na produção,  da forma como vemos  as intoxicações pode melhorar as coisas. Digo melhorar, não curar ou vencer.

 

 

 

 

Bibliografia: Booth, 1996, Allsop, 1968, etc.

 

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Memórias

Ângelo Mariani, corso de nascimento, lança em 1863 uma bebida que viria a fazer história, o vinho Mariani, feito com a fermentação de folhas de coca. Da Rainha Vitória ao Xá da Pérsia, todo o fino mundo o bebeu no final desse século. Como curiosidade, uma carta do secretário do Presidente dos EUA William McKinley, para  alguém que enviou à Casa Branca uma caixinha do produto:

My dear Sir,
Executive Mansion, June 14, 1898

Please accept thanks on the President's behalf and on my own for your courtesy in sending a case of the celebrated Vin Mariani, with whose tonic virtues I am already acquainted, and will be happy to avail myself of in the future as occasion may require.

Very truly yours,

John Addison Porter,
Secretary to the President


Outros tempos.

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Quinta-feira, 21.06.12

A história afegã, Parte I: os antecedentes iranianos.

Os EUA exibem o maior recorde de asneiras em sede de  política de drogas. Como têm sido eles, desde o início do século passado , a liderar as referidas políticas, a conclusão é estelífera.

Já aqui falei , a propósito de Khun Sa, da forma desmiolada como os EUA se intrometeram  no antigo Triângulo Dourado: a política da DEA e da Casa Branca foi a de estilhaçar a zona, provocando o aparecimento de centenas de focos de produção e dezenas de senhores da guerra,  que se transformaram em senhores do ópio. Avançando  até aos anos 80,  a verdade é que nada chega aos calcanhares da asneira afegã: ao mesmo tempo que que declaravam a war on the drugs , os americanos  criavam o mais pujante e concentrado  território produtor de ópio até hoje existente: o Afeganistão.  A razão  foi simples: a covert war contra a URSS.

Em 1947, o Afeganistão e o Paquistão eram insignificantes produtores de ópio. Nos anos anteriores, Os ingleses tinham controlado a proução na fronteira norte do Pqquistão mas não proibiram o consumo.  Via Jalalabad, o ópio afegão, produzido no vale  de Herat e em Kandahar,  chegava para as encomendas. Naqule zona, o problema era o Irão, enquanto  produtor e consumidor. Um pouco mais afastada, a Turquia era outro problema, mas apenas enquanto produtora.

Em 1949, o U.S. Bureau of Narcotics abre um escritório em Teerão. Garland Williams, o chefe de missão, descobre  uma população adicta de 1,3 milhões.  Um em cada  nove adultos era drogado e existiam , só na capital, 500 dens. O shah impõe então uma restrição  e o exército erradica  o cultivo da papoila. Boa ideia. O  número de dependentes desce  brutalmente  para cerca de 350.000 almas  que consumiam  240 toneladas de ópio afegão  e turco.Acontece que 350.000 drogados  era muito drogado, até porque  o número real  era superior ao da propaganda e balança comercial  estava inclinada para Kabul. O shah tem então outra ideia: permitir o cultivo da papoila para produzir  heroína destinada a utilizadores registados. Os EUA desesperam:  distribuição controlada é tabu em Washington. O shah não recua, tanto assim que  retoma, em 1969, o cultivo próprio. O motivo : "Baniremos a produção de ópio quando os nosso vizinhos o fizerem".

O Irão, o Afeganistão e o Paquistão funcionavam, naquela altura , na forma que os especialistas designam por self-contained opium trade. Traduzindo por miúdos, diz-se de uma zona que não excede  a produção de forma severa, não exporta significativamente para outras áeras do globo e  mantém estável o número de consumidores. A covert war da CIA  contra os soviéticos haveria de estilhaçar este precário equlíbrio.

 

Este pedacinho  de História recorda dois  eixos fundamentais da política de drogas:

a) uma atitude musculada funciona sempre num primeiro momento,

b) a médio e longo prazo, nada funciona em separado.

 

 

bibliografia: Mc Coy, 2003, e o próprio Kissinger, como podem ver aqui nesta troca de telegramas.

publicado por FNV às 22:47 | link do post | comentar

A mentira portuguesa

Isto é  a regra , não é a excepção. Quando digo regra, refiro-me à forma como as drogas , que os  proibicionistas  e  os fanáticos ( são coisas diferentes)  garantiam não existir nas cadeias quando o primeiro governo de Sócrates tentou ( sem muita convicção, diga-se) estabelecer programas de redução de riscos lá dentro, entram nas prisões. A regra não é , obviamente, a existência de funcionários traficantes. Como podem ler , basta um:

 

"But the most significant sources of drugs, many prisoners claim, are wayward staff members, or “bent screws.” “You just need one corrupt officer,” said one inmate, “for the whole wing to have drugs".

publicado por FNV às 11:12 | link do post | comentar
Terça-feira, 19.06.12

"NOVAS" DROGAS

New drugs were detected in the European Union last year at the rate of around one per week, according to the EMCDDA–Europol 2011 annual report1). A total of 49 new psychoactive substances were officially notified for the first time in 2011 via the EU early-warning system (EWS) (2). This represents the largest number of substances ever reported in a single year, up from 41 substances reported in 2010 and 24 in 2009 on new psychoactive substances released today.

A seu tempo veremos  o que é novo e o que parece novo, mas as notícias, como sempre, são velhas.

publicado por FNV às 22:50 | link do post | comentar | ver comentários (4)

RAÍZES IMPERIAIS E COLONIAIS DA PROIBIÇÃO - a tese (III)

Intro:

 

( Trabalhei no terreno durante bastante tempo. Estagiei e depois efectivei como toxicoterapeuta numa das áreas mais duras: a desintoxicação.  Entre 1991 e 1995 apoiei os drogados que passavam oito dias ( quando não desistiam) na primeira UD ( unidad de desintoxicação)  criada em Portugal: a do CAT de Coimbra, dependente do Ministério da Saúde. Também colaborei, desde o início, com a Comissão Nacional de Luta contra  a SIDA, no âmbito do Projecto Stop-SIDA, o primeiro programa de redução de riscos que envolveu troca de seringas em farmácias. Ensinei, no ISMT, também durante muitos anos, História  e Cultura das Drogas. Hoje sou só  um teórico   e historiador amador das drogas, com muito lastro prático, mas  ainda com mais respeito pelo estudo e pelo conhecimento não-clínico do problema.

Um dos aspectos mais deprimentes da toxicoterapia é a ignorância. Muitos técnicos da área comportam-se como cirurgiões que procuram o coração no joelho do paciente. Outros, panfletistas da war on drugs e políticos/decisores, manifestam , ou fingem manifestar, o maior  desprezo sobre a História, os factos e  os números. Este blogue pretende oferecer uma visão fria e rigorosa da realidade. As conclusões serão tiradas pelos leitores ).

 

 

 

A ligação entre cultura  e intoxicação é mais do que uma simples evidência histórica: é um dado neuroquímico. Nós temos neuroreceptores desenhados para  desfrutar dos opiáceos, por exemplo. No entanto, a cultura interessa-me mais, porque as políticas de droga interessam-me mais do que a construção cerebral. Um dos desse aspectos, sumamente atraente, é o da escolha: porque optam, ou optaram no passado,  certas culturas por umas substâncias em detrimento de outras?  De que forma essas opções determinaram a relação das culturas com as drogas?

Os Chicbas da Colômbia  pré-colonial  utilizavam uma solanácea, a Brugmansia, numa bebida  misturada com cerveja de milho para narcotizar os escravos e as viúvas ( que eram enterradas vivas) dos reis mortos .No Bornéu, algumas tribos  utilizam, também numa cerimónia fúnebre, a intoxicação com vinho de arroz enquanto passam em revista o repertório musical da tribo.

Na Europa, na nossa Europa,  outra planta da família das solanáceas, a Atropa Belladonna,  fez um percurso sedutor nas casas nobres das renascentistas Florença, Veneza   e Génova.  Os frutos da Belladonna ( um arbusto de porte médio) , uma espécie de cerejas negras, foram baptizados  de muitas formas: erva-do-diabo, deadly-night-shade, dwale ( do antigo norueguês  significando torpor ou transe) ou walkerbeere ( fruto das Valquírias). Os principais alcalóides da Belladonna são a atropina e a escopolamina. Depois  de uma  primeira fase de intoxicação caracterizada pela sonolência, chega a desinibição e a dilatação  da pupila ( daí o baptismo de Lineu). Depressão, sexo, langor: a Belladonna esteve lá.

A lista  é longa e o ponto é curto:a intoxicação , até à apropriação tecnólogica pelo ocidente imperial e colonial , era um affaire tradicional, ritualizado  e bem assimilado. Quando Albert  Niemann pega na ancestral  folha de coca, deita fora celulose, vitaminas, sais minerais, açúcar e e quase uma vintena de outros  alcalóides e exige apenas a síntese da  cocaína, está a obliterar séculos de História  e tradição. Os nativos dos Andes amassam as folhas numa bola ( não as mastigam, ao contrário do que se diz) e colocam-na ao canto da boca. Depois adicionam  um aditivo alcalino ( casca de árvore, conchas moídas etc) e só então as propriedades psicoactivas da coca são libertadas. Vêem a diferença?

Para a análise do nosso comportamento actual ( desde o início do século XX) face às drogas ( termo inexacto, já se vê, porque incompleto), é necessário compreender o que fomos deixando de lado e o que fomos acrescentando. Temos tempo, se os  deuses assim quiserem.

 

 

 

Bibliografia: Metcalf, 2008;  Oxenberg, 1998; Schroeder, 1996;  etc

 

 

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Segunda-feira, 18.06.12

CHICAGO "JUAREZ" ( introdução à Lei Seca)

Há cinco ou seis  anos, no Mar Salgado ( um blogue onde escrevi entre 2004 e 2011) afirmei que Ciudad Juarez era a cidade mais violenta do mundo. Recordo  a incredulidade  de muitos  e o cepticismo de alguns. Hoje é uma classificação pacífica: subjectiva, claro, mas pacífica.

A partir de !919, início do segundo mandato de Big Bill Thompson, Chicago foi, até ao final da Lei Seca , a cidade  mais violenta e corrupta da América. Coincidência com Ciudad Juarez e outras narcovilles de hoje:  uma droga proibida, corrupção institucional, um mercado radioso, uma política desastrosa.

A Chicago dos  filmes começou bem antes. Os patrões dos districts comandavam a política local . Bathouse John Coughlin , Big Jim Colosimo e Michael  Hinky Dink Kenna, donos de saloons e bordéis,  faziam distribuir boletins de voto aos seus prosélitos. Marcavam os boletins com o voto exigido e os eleitores entravam na cabine de voto com eles nos bolsos. À saída da secção de voto, tinham de entregar o boletim em branco que receberam da mesa: assim se garantia que os votos comprados eram efectivamente depositados nas urnas.

Quando a Prohibition entra em vigor ( 1920),  a um clima generalizado de banditismo juntou-se o problema do álcool: clubes, speakeasies e privados tinham de adquirir álcool aos bootleggers. Com a permanente falta de álcool,  os gangsters  , portanto, os traficantes, mandavam na distribuição: compravam saloons, chantageavam os que não conseguiram comprar, controlavam a produção ilegal. Esse  álcool tornado ilegal  foi para o submundo e no submundo foi gerido. Alguns exemplos:

 

1) De  136 assassinatos de rua em Chicago  durante os primeiros cincos  anos da Prohibition, apenas seis foram julgados e apenas um resultou na condenação do culpado.

2) Chicago foi Ciudad Juarez durante muitos anos. Em 1928, nas eleições para Procurador, nas quais  John Swansom, um  partidário do clean government, concorreu, registaram-se  , em apenas seis meses , 62 ataques com a famosa bomba-ananás.

3) O massacre  de S. Valentim  ( ventilado pela fama do Some Like it Hot ,de Billy Wilder) , a 14 de Fevereiro de 1929, foi, segundo Behr, um rotineiro ajuste de contas de Capone com  Bugs Moran que quis  mudar de fornecedor,  porque  o Detroit Purple Gang cobrava muito dinheiro.

 

 

A Prohibition será visitada muitas vezes por este blogue. Incluiu imensos aspectos, alguns pouco cinematográficos, mas é uma  escola de realidade para testar muitas convicções. Ciudad Juarez é hoje uma narcoville com  características específicas, mas partilha com a Chicago dos anos 20, com a Pakse dos anos  70 ou com a Marselha dos anos 60, o mesmo denominador.

 

 

 

 

Bibliografia: Behr, 1996; Kobler,1973

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