Domingo, 12.05.24

Das gaspiadeiras de Vizela ao pescadores mexicanos

As apreensões de toneladas, as mega-operações como a desta semana no Porto, os episódios com as lanchas rápidas, enfim, faz lembrar a  descrição de La Bruyère sobre a  cidade dividida em pequenas  sociedades que são como outras tantas pequenas repúblicas. O problema é que o nosso olhar é atraído para as pequenas sociedades espectaculares, ficando de fora outras bem interessantes. E, parafraseando  o actual Presidente da República, do mundo semi-rural. Ora vejamos:

 

Mãe e filha lideravam a actividade criminosa a partir de casa onde tinham uma fábrica de calçado, na Rua Pereira Reis. Por sua vez, a amiga, cabeleireira em Guimarães, era consumidora e é suspeita de vender droga em Guimarães fornecida pelas amigas.

Segundo a Guarda Nacional Republicana (GNR), foi ainda desmantelado um "pequeno laboratório doméstico" e apreendidos mais de 240 mil euros.

11. 900 doses de MDMA e 2.940 doses de cocaína, 1/4 de milhão de euros. Um pequeno laboratório? Uma cozinha de apoio à churrasqueira. Fábrica de calçado em Vizela? Um anexo à casa principal ou um barracão perdido em nenhures. Marketing? A amiga cabeleireira.

Esta história é uma das tais pequenas sociedades, que são outras tantas pequenas repúblicas,  em que se divide a narco-cidade. Nesta não há toneladas, tiros disparados de carros, milhões de euros em sacos. No Minho verde e pardacento as pessoas executam o franchising com desenrascanço. Podia ser pior.

 

Muito pior? Por exemplo  quando os narcos fazem o caminho contrário. Ou seja, quando passam da coca ou do fentanil para produtos que a vossa mãe compra todas as semanas. No México, na Baja,  o pessoal do cartel de Sinaloa (Jalisco Nova Geração) toma conta de pequenas comunidades piscatórias e fábricas de processamento de peixe e marisco. De início compram acima do preço do mercado, depois passam a comprar abaixo do mínimo. Para exportar seguem o caminho habitual:

For high-value fish meat, scallops, or oysters requiring freezing, complex processing, and provenance and sanitary documents, the cartels bring the seafood to Mexican (and U.S.) government-certified processing plants. A refusal by a processing plant to accept seafood brought in by Mexican organized crime groups would lead to the plant being burned down or its employees or owners killed.

Se pensam que isto é novo estão enganados.  Durante a Lei Seca, que já aqui abordei várias vezes,  o dito crime organizado reinvestiu os ganhos em negócios legais. Por exemplo, a construção de milhares de bares e clubes supostamente dry empregou pedreiros, electricistas, porteiros, cozinheiros, fabricantes de tijolo etc. Os portos, sobretudo os que serviam a importação de álcool canadiano, acabaram controlados mesmo na parte legal do negócio.

A escala é hoje diferente, sem dúvida, mas a regra do jogo é a mesma.

 

 

 

 

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Sábado, 30.03.24

Baicá Sanhá e a gota no oceano

Abertura:

With the assistance of co-conspirators, Sanha provided 4.7 kilograms of heroin to an undercover member of law enforcement in Lisbon, Portugal, in February and March 2022. He further agreed to deliver the heroin on at least three occasions, believing it would be unlawfully imported into the United States.

 

Esta parte seria cómica se  não fosse uma desgraça:

Malam Bacai Sanha Jr. wasn’t any ordinary international drug trafficker,” said Special Agent in Charge Douglas Williams of the FBI Houston Field Office. “He is the son of the former president of Guinea-Bissau and was trafficking drugs for a very specific reason - to fund a coup that would eventually lead him to the presidency of his native country where he planned to establish a drug regime.

 

Isto porque a Guiné-Bissau é há muito tempo um narcoestado. Bacai Sanhá não ia montar um drug regime. No máximo ia substituir um por outro. Rotação de efectivos.

A primeira referência à internacionalização narco na Guiné data de 2005 ( Mazzitelli, A. L. (2007). Transnational organized crime in West Africa: the additional challenge, International Affairs, 83-6, 1071-1090). Em Abril desse ano foram presos 19 estrangeiros latino-americanos e apreendidos 19 quilos de cocaína numa ilha do arquipelago dos Bijagós.

Nos dois anos seguintes duas apreensões de  670 e 635 kg. Em 2008 venezuelenanos descarregaram um avião de carga em Bissau, a polícia foi impedida de actuar por elementos do exército. No mês seguinte o almirante Bubo Na Tchuto foi demitido, tentou um golpe e fugiu. Em 2009 Nino Vieira, que tinha regressado em 2005 com dinheiro de narcos colombianos,  é assassinado. Em 2011 a Guiné Bissau é reconhecida como um narcoestado. Em Março de 2013 a DEA prende na Argélia dois operacionais das FARC e três elementos da Al Qaeda. Numa audiência do Senado, James Clapper, na altura boss da DNI, identifica a Guiné Bissau como ponto  auxiliar no financiamento do terrorismo .

 

Sei que estamos com os olhos postos na cocaína que o Brasil exporta, mas a zona  conhecida como África Ocidental  continua a jogar com ganchos e low kicks. A técnica do rip off:

Traffickershide the powder in the goods loaded on board or use the “rip off” technique, which consists of fraudulently opening a container to deposit their packages. “The challenge of controlling the flow of goods by sea is immense,” says a marine transport specialist. “The ships are getting bigger and bigger and more and more numerous. Checks are random and only cover a tiny minority of containers. Everything else goes through.”

Os números divulgados esta semana ( 22 toneladas apreendidas em 2023.), percebem agora por que motivo são uma gota no oceano. A cocaína que realmente  passa por nós já terá  ultrapassado, e muito, a regra  do triplo

 

 

 

 

 

 

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Quarta-feira, 13.03.24

A East India Company, o primeiro cartel narco

Os mexicanos, marroquinos e colombianos estão na Europa a trabalhar no negócio. A  grande mudança é essa: já não enviam o produto, estão cá distribuir, vender, produzir. Os agentes químicos necessários à produção de cocaína, como o acetato de etila e outros:

 

Global seizures of potassium permanganate increased to 84.2 tonnes in 2020, 29 % more than in 2019 (INCB, 2022). A new trend in cocaine production related to ethyl acetate, confirm that cocaine manufacturing is taking place in Europe, especially in the Netherlands, Spain and Belgium.

 

Como sempre, pensamos que a novidade é absoluta. Não é, é apenas relativa.

Depois de muitas zaragatas ( a Primeira Guerra do Ópio)  o Tratado de Nanquim ( 1842) abre cinco portos chineses à Inglaterra. Despejar ópio nos pulmões chineses  estava assegurado ( pese o primeiro édito proibitivo assinado pelo imperador  Yung Chen em 1729).O problema é que Serturner tinha descoberto a morfina e a seringa hipodérmica foi inventada pouco depois, em 1850. Tenho numa secção especial algumas edições ( francesas e portuguesas) de final do século XIX sobre estas modernices.
O que tínhamos então? Os ingleses a encher os cofres com o anfião de Bengala : toda a zona baixa do Ganges, numa extensão de aproximadamente mil quilómetros, produzirá o famoso ópio de Malwa. Três regiões de denominação protegida ( como se diz hoje nos vinhos) vão brilhar:  Sutanuti, Gobindapur e Kalikata ( a união destas três povoações  dará mais tarde o nome a Calcutá). Ao mesmo tempo a morfina injectável utrapassava o láudano em popularidade e os lordes ingleses inquietavam-se.

Tanta inquietação constata-se no discurso de Lorde Ashley em 1843 nos Comuns, advogando a supressão do tráfico. Vai daí, em 1868, o Pharmacy Act é o precursor das tentativas de controlo dos opiáceos: passam a ser apenas disponibilizados por médicos e farmacêuticos.

 

Ou seja, a Companhia das Índias foi o primeiro grande cartel narco. Ocupou uma zona de produção, espetou o produto num mercado estelífero mas depois desenvolveu-o na Europa  e  chegou  às casas de professoras primárias entediadas e de  Oscar Wilde, Yeats ou Quincey.

 

 

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Sábado, 24.02.24

A invasão

Aqui podem ver  ( a meio do artigo) uma simulação 3D de como um contentor de cocaína ( ou de pasta base) é organizado para envio:

interact with the 3D visualization below to learn some of the ways traffickers use shipping containers to conceal cocaine.

Nada disto é possível sem ( bold meu) :

Both Mexican cartels and EU-based drug trafficking networks corrupt officials in the public and private
sectors to increase the likelihood of successfully smuggling drug consignments through transportation hubs in both Latin America and the EU.

 

É irresistível fazer uma comparação com outras épocas da narcohistória. Não me interesa tanto a pequena corrupção de agentes alfandegários, estivadores, policias etc. O artigo da Europol dá a pista para outras caçadas e este relatório do UNDOC idem:

Governments must also make sure that drug trafficking does not pay, by targeting the financial arrangements which enable criminal organizations to reap the profits of their activities, in order to take away from the monetary gain which motivates trafficking activity and to prevent the
infiltration of these arrangements into the legal economy.

 

A comparação implica sair dos estereótipos cinematográficos dos narcos: bandidos  semianalfabetos bigodudos em casa com piscinas e señoritas muy chulas. Já houve avanços na Netflix mas ainda assim o rótulo continua a funcionar. A percepção que as pessoas têm é a de que os narcodólares estão apenas ligados a outros negócios ilícitos ( armas por ex) ou à corrupção do político local. Em 2008 os lucros do tráfico de droga inhectaram 356 bilões de dólares nos bancos em crise.

Na Europa, sobretudo na zona Euro,  a narcoeconomia já não se limita aos processos de importação e distribuição. A última avaliação apontava para um mercado de 10, 5 biliões de dólares. Como é óbvio, os lucros deste mercado não são amontoados em garagens. Bancos, construção, indústria, tudo recebe narcoinvestimento. Pensar que isto é possível sem a caução, ao mais alto nível, do poder regulatório, judicial e político é de uma ingenuidade desarmante.

A comparação do impacto nas sociedades europeias com o que houve nas sul-americanas e no México deixa-nos com uma sensação ligeiramente desconfortável.

 

publicado por FNV às 10:32 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Terça-feira, 23.01.24

A extradição, essa incompreendida

Foi por causa disto, tal como na Colômbia de Escobar, que tudo começou:

Ecuador deberá decir en la consulta popular de 2023 sobre si aprueba o no la extradición de ecuatorianos a EEUU vinculados a casos de narcotráfico. El gobierno de Guillermo Lasso ha justificado ese cambio con el objetivo de luchar contra el crimen organizado en medio de un contexto de violencia creciente.

( https://www.planv.com.ec/historias/crimen-organizado/quienes-son-ecuatorianos-extraditados-o-extraditables-eeuu-narcotrafico)

O pessoal gosta sempre de explicações sociológicas complexas, mas a extradição de narcos para os EUA é muitas vezes a causa directa do assalto ao poder. Na Jamaica aconteceu mesma coisa:

Dos personas murieron ayer en los graves disturbios en Kingston provocados por grupos que se oponen a la detención y posterior extradición a Estados Unidos del narcotraficante Christopher Dudus Coke, informó ayer el Gobierno jamaicano.

( https://www.levante-emv.com/internacional/2010/05/25/emergencia-jamaica-revuelta-extradicion-narco-13144566.html)

 

É evidente que em territórios narcotizados o sistema judicial está paralisado. Basta perceber como funciona o equilíbrio  entre cartéis ou, mais pipi e actual,  redes transcriminais ( RTC).A designação é correcta. Hoje em dia preparam uma  operação num país para ser executada noutro para ter impacto num outro ainda.

A sociedade e a economia estão implicadas: contrata-se engenheiros, médicos, advogados ( https://www.infobae.com/2014/05/26/1567655-los-carteles-mexicanos-bolsa-trabajo-propia/) , já não apenas camponeses e motoristas. Os políticos locais são uma espécie de prebostes das RTC, os políticos nacionais dependem dos caciques locais para eleger deputados. O sistema judicial ( como se viu no caso colombiano do tempo de Escobar) trabalha com as leis federais aprovadas. A da extradição para os EUA é verboten.

 

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Terça-feira, 12.09.23

Equador e albaneses

Todos assistimos aos recentes acontecimentos. Villavicencio ( candidato presidencial)  e depois Briones ( do partido de Luíza Gonzales)  foram assassinados. Um dos cartéis, Los Lobos, veio a público dizer-se inocente. Talvez sim talvez não porque a luta entre os três principais cartéis está ao rubro.

Zurrita, sucessor de Villavicencio,  explicou bem:

No podemos continuar las investigaciones si no contamos con la participación de Colombia. Para entender el crimen de Villavicencio necesitamos hacer acuerdo y formar nuevos lazos con Colombia, el principal productor mundial de cocaína, añadió.

A caldeirada recente começou com o assassinato de Humberto Salazar ( dos Cubanos ) e com a morte por coronaviris de Geovanny Mantilla, lider dos Los Choneros. Como não podia deixar de ser, a coisa fermentou no sistema penitenciário equatoriano, onde outro grupo, Los Lagartos, dá cartas,  mas a partir de 2021 estalou para as ruas.

A recomposição da rede de cartéis tem de ser entendida à luz do reposicionamento do Equador no narco-xadrez sul-americano. As coisas estão por um fio e são muito bem explicadas aqui:

Pazmiño: Dois fatores influenciaram. O primeiro, o chamado efeito balão, que é a mudança de estratégia do crime organizado, que, atacado na Colômbia pelo governo do presidente Álvaro Uribe, buscou uma forma de continuar com o negócio transferindo parte de sua infraestrutura para outros países, incluindo Equador e Venezuela.

Em segundo lugar, há um transbordamento de 750 toneladas de cocaína [colombiana] para o território equatoriano, já que há uma faixa em direção ao Pacífico que inclui o departamento de Nariño, na Colômbia, e a província de Esmeraldas, no Equador, por onde saem 75% de toda a produção de cocaína na Colômbia.

Estas 750 toneladas anuais passam para o território equatoriano, saindo para a Europa pelos diferentes portos e aeroportos.

 

O que é fabuloso como sempre na história do narcotráfico é a criatividade. Uma das primeiras e principais conexões europeias dos cartéis equatorianos foi...albanesa. Dois grupos albaneses, os Axemi e os Rexhepi lançaram as bases para a diversificação europeia dos transbordos de cocaína equatoriana.

 

 

 

 

 

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Domingo, 28.05.23

Os europeus, os precursores do narcotráfico

A luta contra droga, a war on drugs, é a luta contra a dita cultura ocidental. Parece estranho, não é? Nem tanto.

Um bósnio-holandês e um marroquino-holandês presos no...Dubai. A operação Luz do Desertto reivindica a degola de um super cartel responsável por 1/3 do tráfico europeu de cocaína. A globalização pula e avança? Não. A globalização esteve sempre umbilicalmente ligada ao narcotráfico. E  fomos nós, europeus, que a inventou.

 

Tenho o prazer de ter , e há muito tempo, nas minhas estantes, a referência mundial em drogas de século XVI. Garcia da Orta : Colóquio dos  Simples e Drogas e Cousas Medicinais da Índia, publicado em 1563. Foi traduzido por Lecluse ( Clasius) quatro anos  depois e agrupado a uma outra, de Cristovão da Costa , dada à estampa em Burgos em 1576. Entre outras coisas, uma interessantíssima: nenhuma referência ao ópio...fumado. Essa invenção, a primeira grande no narcotráfico mundial, viria depois pela mão de portugueses, espanhóis, holandeses e ingleses: cruzando continentes e mares,  línguas e etnias. E tudo sem uma App.

 

Quem populariza, traficando e criando mercados, o ópio fumado são os europeus. No tempo de Orta e de Costa tínhamos três tipos de ópio ingerido: o do Cairo ( meceri na Índia), o de Adém ( negro e rijo) e o de Cambaia ( mais molle a mais louro na descrição de Orta), popular sobretudo na Índia.

O início do hábito de fumar o ópio é nebuloso, adopto como boa a tese javanesa e malaia. Misturar folhas de tabaco com ópio: o madak, que subsistiu até início do sex XX, continha apenas 0.2% de morfina. O hábito é passado, via trocas comercias,  ao sul da China. Espanhóis e portugueses levam o tabaco a Java Samatra e Sião. A diáspora chinesa estabelece os Hokkiens ( de Fujian) e os Teochuw ( de Cantão).

A conquista de Malaca pelos holandeses da VOC assegura às comunidades chinesas o monopólio da importação de ópio: 56 toneladas / ano em 1677. O resto é conhecido: as Guerras do Ópio ( 1839 e 1853, já mencionadas neste arquivo) nas quais os ingleses  ( e franceses) impõem a abertura de portos chineses ao tráfico de ópio produzido na Índia.

 

 

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Domingo, 21.05.23

Uma coisa boa e uma má

 

É rara a atenção ao lugar que Portugal ocupa hoje no nacrotráfico, por isso é de elogiar o artigo desta semana na Visão. Um bom resumo do estado da nação. Lamentável e escusada é a chamada de capa - mafia síria da droga em Portugal . Vai-se ler a peça e a única coisa sobre isso  é o relato da investigação ao assassínio de um jovem na margem sul por dois sírios  com passaporte sueco. Ao menos podiam ter-se dado ao trabalho de explicar em que reside o osso da coisa: o captagon.

 

Há menos de meio ano o presidente Biden assinou o NDAA que incluiu  o “Countering Assad’s Proliferation Trafficking And Garnering Of Narcotics Act, mais conhecido por Captagon Act. Esta anfetamina  ( fenitilina) existe há muito tempo ( anos 60) , mas a razão é outra e envolve a Jordânia e a guerra:

However, as the Syrian economy faltered and the Assad regime grew more desperate for alternative revenue streams, the estimated $3.5 billion Captagon trade has transformed Syria into a narco-state, with industrial-sized production that has overwhelmed regional law enforcement systems and has stuffed the coffers of the regime and its partners, Lebanese Hezbollah and Iran’s Islamic Revolutionary Guard Corps-backed militias, the analyst added.

As ligações narco são instáveis por isso rearranjam-se facilmente. Saud Al-Sharafat, antigo general nos serviços de inteligência jordanos explicava aqui ( Setembro 2022) a possibilidade futura do tráfico de captagon se expandir para a Europa. Não menciona nenhuma mafia Síria em nenhum país europeu. Em 2028 já aqui faziam a avaliação da coisa e em 2023 este relatório detalha a natureza das sanções ao regime sírio por causa do captagon e também não refere a existência de mafia síria nenhuma a operar na Europa.

 

 

 

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Domingo, 07.05.23

Bonaventure "Rock" Francisci

Uma das vantagens de estudar a história do narcotráfico é a de não ficarmos surpreendidos com os novos arranjos que se vão formando. Outra é a de conseguir compreender melhor esses novos arranjos.

 

Um mercado europeu retalhista de cocaína  estimado ( 2020) em 10.5 biliões de euros trouxe novas necessidades. Uma delas foi a de os europeus terem começado a produzir cocaína ( hidroclorido) a partir da cocaína-base ( pasta base).  Estão a ser dados passos para aprimorar a detecção, o jogo é eterno.

Entre 2018 e 2020 foram detectados 58 laboratórios construídos ( sobretudo na Holanda e na Bélgica)  à imagem do modelo tanque colombiano : zonas separadas de armazenamento, de reciclagem de solventes etc. Como é natural num franchise, técnicos mexicanos e sul-americanos estão na Europa para melhorar a produção e facilitar a importação  de matéria prima. O narcotráfico é o melhor negócio ilegal montado nas melhores regras do mercado livre.

 O que temos então é a adaptação narco às necessidades do mercado, à evolução tecnológica e às modificações geopolíticas. Vamos recordar outro franchise cultural trans-continental:

 

Depis da fuga dos franceses, a Air Laos Commerciale fazia a partir do aeroporto Wattay, em Vientiane,  voos diários levando 300 a 600 kg de ópio base que recolhia em  aeródromos poeirentos  no norte. Este ópio era enviado para o Vietname do Sul e para o Cambodja. Acontece que Bonaventure " Rock" Francisci , corso, estava muito bem relacionado com um conselheiro de Diem, Ngo Dinh Nhu. Assim, Francisci e outro corsos residentes em Vientiane aliaram-se a um dos mais poderosos sindicatos  de Marselha, os irmãos Guerini, e abasteceram Marselha. A French Connection? Bem , a história não é como no filme ( fica para outro texto), o que importa aqui é recordar como os franchises são tão velhos como o próprio narcotráfico.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Sábado, 06.05.23

E la nave va

A situação piorou de tal forma que resolvi reactivar este arquivo. Como se pode notar, o assunto está completamente ignorado pelo discurso político ( governo, AR ), técnico ( PJ, MP) e mediático: os políticos nem o mencionam, os técnicos e os jornalistas limitam-se a reportar operações de apreensão. Existem as excepções que confirmam  a regra: o JN publicou  este ano  uma peça sobre os portos e o DN uma entrevista a Sylvie Figueiredo, no ano passado ( depois de o InSight Crime a ter entrevistado...), onde ela afirma sem rodeios:

Também assistimos a um aumento da corrupção direcionada às autoridades de controlo - fronteiras, polícias, investigadores - e aos magistrados. A corrupção expandiu-se, tal como a violência.

As coisas são o que são, como dizia o Victor Cunha Rego.

 

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